Dra. Lia Alves Schinetski, PHD

As restaurações de amálgama dental podem causar riscos à saúde

 

Alguma vez você já ficou curioso em saber qual é o material daquelas restaurações de cor cinza-escuro que talvez você tenha na boca?

 

Esse material é chamado amálgama, uma mistura de vários metais.

 

50% da composição do amálgama é Mercúrio, um metal altamente tóxico.

 

Apesar de o amálgama ser um material muito utilizado e ter alguns benefícios, atualmente tem sido levantados questionamentos e há uma crescente preocupação com relação ao potencial para riscos à saúde e danos ao meio ambiente.

 

 

 

  1. Toxicidade do mercúrio

 

Quando inalado, 80% do mercúrio é absorvido e levado pelo sangue às células de todos os órgão do corpo.

 

O vapor de mercúrio presente dentro da boca pode ser absorvido pelos pulmões. Íons de metal podem ser ingeridos pelo trato gastrointestinal. E os maiores alvos são o Sistema Nervoso e os rins.

 

O Sistema nervoso central é um órgão sensivelmente afetado pelo mercúrio, e as consequências, dependendo do nível de intoxicação, podem incluir alterações no humor, problemas de memória e concentração, dor de cabeça, fadiga e tremor nas mãos.

 

 

 

O Dr. Tom McGuire, que publicou o livro “The poison of your teeth” (em português: “O veneno dos seus dentes”), demonstrou que o vapor de mercúrio é liberado durante as situações corriqueiras do dia-a-dia. Por exemplo: quando a pessoa escova os dentes, quando toma algum líquido quente como o café, quando masca chicletes, etc.

 

 

Se você tiver curiosidade, veja o vídeo abaixo (em inglês). É bem interessante ver o vapor saindo após cada procedimento feito no dente.

 

 

 

Outro estudioso no assunto, o Dr. Mortazavi afirma, em várias pesquisas publicadas nos últimos anos, que o mercúrio também é liberado das restaurações de amálgama quando a pessoa usa um telefone celular ou faz um exame de ressonância magnética ou radiografia (pelo aumento do campo magnético). Entretanto, esse efeito ainda não foi comprovado por outros estudos.

 

 

 

2. Nível de exposição ao mercúrio não é seguro

 

 

As agências reguladoras, como a Anvisa (no Brasil) e a FDA (nos Estados Unidos), consideram que os níveis de exposição ao mercúrio nas restaurações de amálgama são seguros e correspondem a doses de 5µg/dia, em média. Mas essa dose pode aumentar para até 100 µg em algumas situações (quando a pessoa masca chicletes, por exemplo).

 

Além disso, a quantidade de mercúrio absorvida é maior quanto maior o número de restaurações de amálgama que a pessoa tem na boca, quando há sobrecarga causada por ranger de dentes, e quando há alterações de pH e de temperatura nas condições bucais.

 

Outro problema é que essa “suposta” segurança do amálgama se baseia em estudos realizados há uma década.  Recentemente, quatro reanálises daqueles estudos, feitos com rigorosa metodologia científica, revelaram evidência de perigo, principalmente para algumas pessoas com determinada característica genética. Essas pessoas parecem ser mais susceptíveis à intoxicação por mercúrio.

 

 

 

3. Risco maior para gestantes e crianças

 

 

O Dr. Lars Friberg, consultor chefe da Organização Mundial da Saúde e maior autoridade mundial em intoxicação por metais, afirma que as crianças tem maior risco de terem problemas após a colocação de restaurações de amálgama, porque o cérebro delas é mais frágil, ainda está em formação.

 

Essas restaurações também são perigosas no caso das gestantes, porque o mercúrio atravessa a barreira placentária e pode causar danos ao cérebro do feto.

 

Acabou de ser publicada (fevereiro/2016) uma pesquisa que mostra que os níveis de mercúrio no cordão umbilical são muito mais altos em mães que têm restaurações de amálgama do que as que não têm. De acordo com os pesquisadores, são necessários novos estudos que investiguem se há efeitos neurológicos nos fetos.

 

 

 

4. Sintomas relacionados ao mercúrio do amálgama

 

Alguns sintomas relatados são: fadiga, enxaqueca, sintomas de depressão, perda de memória, autismo, doenças autoimunes, diabetes, insônia, dores estomacais, asma, alergias, etc.

 

Como há outras causas para esses sintomas, dificilmente é feita a associação entre o amálgama e esses problemas.

 

De acordo com um time de pesquisadores norte-americanos, existe evidência científica de que a exposição ao mercúrio do amálgama dental pode causar ou contribuir para várias doenças crônicas, principalmente aquelas que envolvem fadiga e depressão, como a fibromialgia, por exemplo.

 

 

 

5. Efeitos do mercúrio no cérebro

 

 

Em 1997, o Dr. Boyd Haley, da Universidade de Kentucky, revelou que o acúmulo de mercúrio no cérebro causa a morte de neurônios.

 

Ele demonstrou que há uma quantidade mensurável de mercúrio liberado das restaurações de amálgama, e que as alterações que isso faz no cérebro são idênticas àquelas que ocorrem em pacientes com Alzheimer.

 

A Universidade de Calgary, no Canadá, fez um vídeo muito bom que mostra como o mercúrio age nas células neurais, levando à degeneração do cérebro (em inglês):

 

 

 

 

6. Efeitos do mercúrio no meio-ambiente

 

Além de causar danos ao organismo, o mercúrio também contamina o meio-ambiente. Por isso, tem sido feitos grandes esforços por parte da comunidade internacional para bani-lo.

Em outubro de 2013 foi assinado um tratado mundial chamado Convenção de Minamata, que tem o objetivo de regular e reduzir todas as fontes de mercúrio, inclusive o amálgama dental. Em países como Suécia, Noruega, Dinamarca, Alemanha e Japão, dentre outros, o amálgama já está proibido. Na maioria dos países ele ainda é permitido, mas tem sido estimulada a diminuição de uso.

 

7.  Remoção de restaurações de amálgama

 

 

Diante de tudo isso, talvez você esteja se perguntando: “Será que eu devo trocar as restaurações prateadas que eu tenho na boca?”.

 

Para solucionar essa dúvida, pesquisadores da Universidade de Calgary, no Canadá, investigaram se a remoção do amálgama poderia trazer melhora na saúde das pessoas, quando comparados com outros indivíduos que não tiveram essas restaurações removidas.

 

Eles observaram que alguns sintomas foram significativamente menores no grupo de pessoas que tiveram as restaurações de amálgama removidas: falhas na memória, problemas estomacais, fadiga, distúrbios no sono, confusão mental, perda dos sentidos de cheiro e paladar, tremor nas mãos.

 

A conclusão dessa pesquisa foi que a exposição ao mercúrio das restaurações de amálgama tem um impacto negativo na saúde das pessoas. Por isso, outros materiais mais seguros deveriam ser usados para evitar o risco à deterioração da saúde associado com a exposição desnecessária ao mercúrio.

 

 

 

Finalizando…

 

Você sabia que os pedaços de amálgama que são retirados de um dente não podem ser jogados diretamente no lixo, porque senão vão contaminá-lo?

Mas e a sua boca? Não fica contaminada por esse material também? Porque você colocaria na sua boca algo que não pode nem ser jogado no lixo?

Dr. Boyd Haley

 

 

A minha intenção aqui não é trazer notícias sensacionalistas, mas sim informação de qualidade, baseada em estudos científicos (veja abaixo a grande lista de referências bibliográficas que eu usei para escrever esse texto). Por isso acredito que essa pergunta do Dr. Boyd Haley faz todo o sentido!!!

 

 

O uso do amálgama dental é um assunto que gerou bastante polêmica no ano passado quando houve uma tentativa no Congresso de aprovar uma lei para proibi-lo no Brasil. A maioria dos dentistas se manifestou contra, exaltando os benefícios e o histórico do amálgama como um grande material (ele já é usado há mais de 150 anos!).

 

 

Eu concordo que o amálgama foi um material importante na Odontologia e continua tendo o seu espaço em alguns casos específicos. Por isso, talvez não seja ainda o momento de proibi-lo.

 

 

Mas na minha opinião, em pleno século XXI, não há mais motivo para que ele continue sendo usado na grande maioria dos casos, principalmente em consultórios privados. Atualmente existem outros materiais, como resina e porcelana, de excelente qualidade, que substituem perfeitamente o amálgama.

 

 

Eu não escrevo esse artigo para que as pessoas saiam correndo em direção aos consultórios para trocar as restaurações antigas com a maior urgência. Mas vale a pena refletir: se aquela restauração já durou 20 anos, não precisa mantê-la por mais 20 anos, certo?

 

 

Ainda não existe uma resposta definitiva para a pergunta: “quão mal uma restauração de amálgama pode fazer a uma pessoa?” Entretanto, as pesquisas mais recentes e o posicionamento de vários países em relação a isso mostram que nós não devemos ser tão condescendentes com relação ao mercúrio e metais usados dentro da nossa boca.

 

 

 

Você tem mais alguma pergunta sobre o amálgama dental? Deixe nos comentários para eu te responder.

 

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Referências:

Bedir Findik et al. Mercury concentration in maternal serum, cord blood, and placenta in patients with amalgam dental fillings: effects on fetal biometric measurements. J Matern Fetal Neonatal Med. 2016 Feb 22:1-5.

Mackey et al. The Minamata Convention on Mercury: attempting to address the global controversy of dental amalgam use and mercury waste disposal.Sci Total Environ. 2014 Feb 15;472:125-9.

Pendergrass JC et al.Mercury vapor inhalation inhibits binding of GTP to tubulin in rat brain: similarity to a molecular lesion in Alzheimer diseased brain. Neurotoxicology. 1997;18(2):315-24.

Kern JK et al. Evidence supporting a link between dental amalgams and chronic illness, fatigue, depression, anxiety, and suicide. Neuro Endocrinol Lett. 2014;35(7):537-52.

Kao RT et al. Understanding the mercury reduction issue: the impact of mercury on the environment and human health. J Calif Dent Assoc. 2004 Jul;32(7):574-9.

Mortazavi GMortazavi SM. Increased mercury release from dental amalgam restorations after exposure to electromagnetic fields as a potential hazard for hypersensitive people and pregnant women. Rev Environ Health. 2015 Dec 1;30(4):287-92.

Mortazavi SM et al. Dental metal-induced innate reactivity in keratinocytes. Toxicol In Vitro. 2016 Feb 27.

Akgun OM et al. Does magnetic resonance imaging affect the microleakage of amalgam restorations? Iran J Radiol. 2014 Aug;11(3):e15565.

Homme KG et al. New science challenges old notion that mercury dental amalgam is safe. Biometals. 2014 Feb;27(1):19-24.

Zwicker JD et al. Longitudinal analysis of the association between removal of dental amalgam, urine mercury and 14 self-reported health symptoms. Environmental Health 2014, 13:95

 Jung-Duck P, Zheng W.Human Exposure and Health Effects of Inorganic and Elemental Mercury.  J Prev Med Public Health 2012;45:344-352

 

 

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    Comentários

    1. Karine disse:

      Oi Lia!
      Muito legal seu blog! Interessante sua materia sobre o amalgama dentario. Nao concordo, mas respeito. Aqui nos Estados Unidos algumas poucas universidades nao ensinam mais amalgama… Sou responsavel pelo curso de dentistica e ainda nao vejo a completa extinçao do amalgama na minha universidade, pelo menos nao em um futuro proximo. E claro que a grande maioria das restauraçoes diretas feitas em nossas clinicas sao de resina, mas o amalgama ainda tem seu lugar…. Nao sabia q no Brasil foi votado um projeto para proibiçao do amalgama…. Fiquei curiosa pra saber se ainda ensinam na Unesp. Vc tem essa informaçao? bjs

      • Lia Alves disse:

        Karine querida! Que alegria ter você prestigiando meu blog!!! Também acho que a proibição não é o caminho, porque há situações necessárias para se usar o amálgama. Eu acredito que na Unesp ainda se ensina o amálgama sim.
        Continue a comentar sobre os artigos do blog sempre que puder. Considero demais sua opinião!!! Bjs com saudades

    2. Rogério disse:

      Bom dia Lia! Gostaria de saber se existe algum estudo sobre quanto tempo demora para o mercúrio presente na amálgama ser totalmente absorvido pelo corpo? Obrigado pela atenção!

      • Lia Alves disse:

        Olá Rogério! Não existe nenhum estudo para elucidar essa questão. Eu acredito que o mercúrio não é totalmente absorvido, é apenas uma parte dele, mas que pode causar danos mesmo em pequena quantidade.

    3. Vera Lucia de Moraes disse:

      Oi Lia!

      Parabéns, pelas preciosas informações! Gostei bastante, principalmente por não serem alarmistas… Têm que trocar as almágamas, já! Rsrsrs… Causaria muito sofrimento, né?! Saber que a gente está se envenenando.
      Gostaria, se possível, que me indicasse dentistas biológicos, que trabalhem em Curitiba e Gurupi-TO, moro nessas duas cidades.
      _/|\_ Que Deus abençoe você, sua família e seus projetos!
      Gratidão!

    4. marcio disse:

      Eu tenho 3 obturações de amalgama em minha boca já vão fazer mais de 25 anos ainda assim esse material é tóxico?

      Estou removendo todas elas pois sempre tive um pressentimento de que não era bom p saúde então fui pesquisar e achei muitas matérias dizendo que realmente fazem mal!

      A duvida é se mesmo depois de muito tempo na minha boca elas continuam tóxicas ou o mercúrio já se foi depois de tantos anos!

      • Lia Alves disse:

        Olá Márcio! O vapor de mercúrio continua sendo liberado, não importa há quanto tempo ele esteja na sua boca.

    5. Leonardo Carvalho disse:

      Tenho amalgama nos dentes a mais de 20 anos, sera que ela ainda pode estar me contaminando!?

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